Summer
Life Style: Como o surf entrou em sua vida?
Roberta
Borges: Comecei a surfar por intermédio de uma amiga em Torres. Esperávamos na
areia nossos irmãos surfarem para pegarmos as pranchas. Isso no final dos anos
70. Essa amiga é a Tanira que foi depois minha colega de equipe na SUNDEK.
Surfava muito bem.
SLS:
A Margot Rittscher foi a primeira mulher brasileira a surfar, nos anos 30.
Depois de tantos anos, porque o surf é um esporte considerado masculino?
RB:
Se fala muito nisso até hoje, mas o futebol também era só para homens. E
naquela época havia muito preconceito, além do surf ser visto como coisa de
vagabundo de praia e maconheiro. Agora imagine uma mulher surfando? Acho que é por lidar com o selvagem, a força
da natureza em sua maior expressão, tem que ter coragem e preparo para praticar
o esporte.
SLS:
Você sente que o preconceito está diminuindo? E por quê?
RB:
Acho que sim. Não só no surf como em vários esportes. A mulher mudou e encarou
a vida com mais coragem. Hoje a mulher é moderna e faz de tudo. No surf acho
que mudou também pelo fato de ter meninas bonitas e bem cuidadas surfando,
sendo exemplo de saúde sem perder a feminilidade.
SLS:
Alguma vez alguém na água disse que o surf é para macho?
RB:
Para mim nunca. Mas, muitas vezes isso é dito com uma atitude e não com
palavras. Como entrar na sua onda e fazer uma zoação.
SLS:
E a vaidade? Os cuidados pesam?
RB:
No surfe o cuidado é dobrado. O sol acaba maltratando a pele e os cabelos. O
sal em demasia também não ajuda. Uso muito creme na pele e nos cabelos o tempo
todo. E isto acaba saindo caro para o bolso. Em compensação o corpo fica ótimo.
Eu não acho as meninas super musculosas, são lindas. Minha filha tem 21 anos, é
surfista e tem um corpo lindo.
SLS:
Você acha que os campeonatos de “blusa molhada” e “miss praia” são machistas?
Como você se sente com algo tão “primitivo”, onde a mulher é o troféu?
RB:
Eu não misturo as coisas. Essas mulheres que estão participando desses
campeonatos, não tem nada a ver com o surf em geral. Elas querem aparecer,
agradar os homens. Os caras querem ver e elas querem mostrar. Não vejo
problema, isso sempre existiu. Mesmo que eu não goste e não aprove. Uma coisa é
o surf e outra são os patrocinadores que ganham com isso.
SLS:
Você já sofreu preconceito de outras mulheres?
RB:
Sim. Na minha época o preconceito partia mais das mulheres do que dos homens.
Sem falar que ficava no mar ao lado dos rapazes e as namoradas não gostavam
muito (risos).
SLS:
Qual a melhor forma de encarar o machismo?
RB:
Acho que é como eu sempre fiz. Nunca tomei conhecimento, não estava nem aí. O
surf é mais importante e prazeroso que não vale a pena pensar no assunto.
SLS:
Qual mensagem você deixa para as meninas que estão começando?
RB:
Não desistam, pois muitas param logo nas primeiras dificuldades. O surfe é uma
coisa complexa, não se sai surfando do dia para a noite. É com muita dedicação
que se alcança uma enorme recompensa.
SLS:
Para finalizar, quais figuras femininas você admira?
RB:
Eu admiro as mulheres que começaram a surfar antes da década de 60, em especial
a Linda Benson. Eu a vi em um documentário outro dia. Ela foi campeã mundial em
Makaha (EUA) no ano de 1959, incrível. Todas as mulheres que tem postura e se
posicionam em relação aos seus princípios são admiráveis. Mulheres de coragem e
personalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário