segunda-feira, 6 de maio de 2013

Surfista de profissão e paixão

Para comemorar o mês das mulheres, conversei com Roberta Borges, uma das representantes do surf feminino, sobre o preconceito que rola na água. Nascida em Porto Alegre (RS), Roberta é apaixonada pelas ondas. Seu primeiro contato com o mar foi em 1976, na praia de Torres (RS), aos 13 anos de idade. Em 85, foi vice-campeã do épico OP Pro, na praia de Joaquina (SC). No mesmo ano, tornou-se campeã nacional no Festival Brasileiro de Ubatuba. Outros títulos vieram durante anos de baterias no Brasil e no exterior. Abaixo a entrevista do Summer Life Style com a surfista:

Summer Life Style: Como o surf entrou em sua vida?

Roberta Borges: Comecei a surfar por intermédio de uma amiga em Torres. Esperávamos na areia nossos irmãos surfarem para pegarmos as pranchas. Isso no final dos anos 70. Essa amiga é a Tanira que foi depois minha colega de equipe na SUNDEK. Surfava muito bem.

SLS: A Margot Rittscher foi a primeira mulher brasileira a surfar, nos anos 30. Depois de tantos anos, porque o surf é um esporte considerado masculino?

RB: Se fala muito nisso até hoje, mas o futebol também era só para homens. E naquela época havia muito preconceito, além do surf ser visto como coisa de vagabundo de praia e maconheiro. Agora imagine uma mulher surfando?  Acho que é por lidar com o selvagem, a força da natureza em sua maior expressão, tem que ter coragem e preparo para praticar o esporte.

SLS: Você sente que o preconceito está diminuindo? E por quê?

RB: Acho que sim. Não só no surf como em vários esportes. A mulher mudou e encarou a vida com mais coragem. Hoje a mulher é moderna e faz de tudo. No surf acho que mudou também pelo fato de ter meninas bonitas e bem cuidadas surfando, sendo exemplo de saúde sem perder a feminilidade.

SLS: Alguma vez alguém na água disse que o surf é para macho?

RB: Para mim nunca. Mas, muitas vezes isso é dito com uma atitude e não com palavras. Como entrar na sua onda e fazer uma zoação.

SLS: E a vaidade? Os cuidados pesam?

RB: No surfe o cuidado é dobrado. O sol acaba maltratando a pele e os cabelos. O sal em demasia também não ajuda. Uso muito creme na pele e nos cabelos o tempo todo. E isto acaba saindo caro para o bolso. Em compensação o corpo fica ótimo. Eu não acho as meninas super musculosas, são lindas. Minha filha tem 21 anos, é surfista e tem um corpo lindo.

SLS: Você acha que os campeonatos de “blusa molhada” e “miss praia” são machistas? Como você se sente com algo tão “primitivo”, onde a mulher é o troféu?

RB: Eu não misturo as coisas. Essas mulheres que estão participando desses campeonatos, não tem nada a ver com o surf em geral. Elas querem aparecer, agradar os homens. Os caras querem ver e elas querem mostrar. Não vejo problema, isso sempre existiu. Mesmo que eu não goste e não aprove. Uma coisa é o surf e outra são os patrocinadores que ganham com isso.

SLS: Você já sofreu preconceito de outras mulheres?

RB: Sim. Na minha época o preconceito partia mais das mulheres do que dos homens. Sem falar que ficava no mar ao lado dos rapazes e as namoradas não gostavam muito (risos).

SLS: Qual a melhor forma de encarar o machismo?

RB: Acho que é como eu sempre fiz. Nunca tomei conhecimento, não estava nem aí. O surf é mais importante e prazeroso que não vale a pena pensar no assunto.

SLS: Qual mensagem você deixa para as meninas que estão começando?

RB: Não desistam, pois muitas param logo nas primeiras dificuldades. O surfe é uma coisa complexa, não se sai surfando do dia para a noite. É com muita dedicação que se alcança uma enorme recompensa.

SLS: Para finalizar, quais figuras femininas você admira?

RB: Eu admiro as mulheres que começaram a surfar antes da década de 60, em especial a Linda Benson. Eu a vi em um documentário outro dia. Ela foi campeã mundial em Makaha (EUA) no ano de 1959, incrível. Todas as mulheres que tem postura e se posicionam em relação aos seus princípios são admiráveis. Mulheres de coragem e personalidade.









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